terça-feira, 10 de junho de 2008

Anarriê - Rodrigo Silva

E lá vem o São João...





Chegou novamente o mês de junho, um dos que mais gosto, e por um motivo bem específico: é o mês das festas de Santo Antonio, São Pedro e São João.

Depois do carnaval o São João é a festa popular mais importante para a cultura - ou culturas brasileiras -, maior até mesmo do que o Natal e o Ano Novo.

Nas grandes cidades do centro-sul do país se perdeu parcialmente a dimensão da importância das Festas Juninas, mas basta sair do eixo Rio-São paulo para que comece a se perceber o quão importante para os brasileiros são essas festas de santos católicos.

Não há cidade do interior que se preze, paróquia que faça jus ao nome que não tenha lá sua quermesse com barraca de comida, quadrilha, quentão, vinho quente, muita coisa de milho, bandeirinha, rojão e bandeira do santo do dia.

Herdamos essa tradição dos portugueses, eles próprios entusiastas das festas de santo católico. Aqui as festas ganharam sua cara própria, se tornaram brasileiras, em cada região do país com sua cara específica: no nordeste de um jeito, no interior caipira de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro outros. Mas sempre em homenagem aos três santinhos.

São João é o Batista, primo mais velho de Jesus Cristo, não o evangelista, o apóstolo, que é comemorado em 27 de dezembro, no mesmo dia, aliás, que este que vos fala. São Pedro é o pescador mesmo, aquele sobre o qual Cristo disse que se edificaria sua Igreja. Por fim, Santo Antonio, o casamenteiro, esse, certamente, o mais curioso.

Santo Antonio se tornou Santo casamenteiro porque nasceu numa cidade onde havia um templo dedicado a uma antiga deusa dos romanos, Ceres, deusa da fertilidade. No vai e vem do catolicismo misturaram a figura do frei franciscano Antonio com os atributos da deusa dos latinos, disso deu Santo Antonio padroeiro das moças casadoiras.

Mas a festa, festa mesmo vem de muito antes.

As origens das festas juninas remontam um passado distante, imemorial, das tribos que habitavam a antiga Europa, há milhares de anos.

Essas tribos comemoravam vários momentos do ano solar, mas, principalmente, o inicio do inverno e o fim deste. No norte do planeta as estações são muito mais marcadas do que para nós, inverno é inverno mesmo: pouco sol, pouca comida, pouco transito de homens e animas. A natureza dorme (inclusive o mito de Perséfone e Hades, dos antigos romanos, diz respeito a isso. Casada contra a vontade da mãe, a deusa Ceres - da fertilidade -, Persefone foi morar com Hades, o deus das profundesas da terra. Em retaliação, Ceres se retirou do mundo e a terra mergulhou num longo inverno. Os deuses interferiram e ela retrocedeu. Então, todos os anos, Perséfone passava metade do ano com sua mãe, que feliz fazia a natureza florescer. Na outra metdade descia ao Ínfero, para co-habitar com Hades, período no qual sua mãe mergulhava numa profunda tristeza, levando a terra consigo em direção ao período invernal).

Essa idéia seminal dos dois grandes períodos do ano marcavam as culturas européias pré-cristãs. E comemorava-se estes períodos de recolhimento e de florescimento.

Erguiam-se grandes fogueiras e se alimentavam em lembrança e honra da fertilidade da Terra. Preparavam-se para um período muito difícil.

Esatas festas primitivas foram cristianizadas durante a Idade Média pelos freis e padres cristãos, missionários em terras das antigas tradições.

O curioso é que, embora as festas tenham recebido uma capa cristã, elas mantiveram sua essência. Quando chegaram as Américas, essas festas rapidamente assimilaram elementos dos povos indígenas daqui, os quais também possuiam seus ritos de fertilidade.

O fato de tanta comida de milho ser servida nas festas juninas é prova disso. O milho é alimento sagrado para os indígenas americanos e símbolo solar da fertilidade em diversas culturas indígenas americanas.

Outros tantos elementos ancestrais também se encontram nas festas juninas, mas o essencial está posto. No mais é botar sua roupa, seu chapéu de palha e procurar uma boa festa, para tomar seu quentão acompanhado de pipoca ou uma brilhante espiga de milho.
Retirada do Bloga Indiana Silva